A MIGRAÇÃO DAS FORMIGAS
Ricardo França de Gusmão
6.2.2020
Meteorologistas previam chuvas
mais intensas no sudeste
enquanto a meninice da Beth
divertia-se
fotografando a mudança
de formigueiro das formigas
amarelas,
no quintal de sua casa.
A menina bióloga anotava
o percurso num bloco e fotografava
as carregadeiras cabeçudas,
as mais fortes,
que transportavam também
os casulos das larvas e pupas,
das futuras cidadãs formigas
socializadas.
Ao mesmo tempo fazia um certo censo.
Isso mesmo, Beth contava formigas.
"Mas por que será que as formigas
mudam de endereço, assim,
em fila indiana, de um ponto ao outro
do quintal?" — perguntava-se,
agora com uma lupa na mão,
a observar a migração das formiguentas.
Nessas horas de aflição
Beth formigava-se.
E a sensação de formigamento
era maior quando nas cercanias do quintal
atrás de um matagal
surgia o contorno de um Myrmecophaga tridactyla!
Ai que esse sujeitinho de afunilado focinho
e 50 centímetros de língua de grudenta saliva colatina,
tamanduá-bandeira, açu ou cavalo,
iurumi, jurumim, papa-formigas-gigante,
urso-formigueiro-grande
a espreitar, vivo de fome, as pequeninas
da menina Beth! Descarado!
Mas Beth, pensa bem na Lei da proporcionalidade.
Eu, narrador, inventei isso agora
para defender o pobre do tamanduá,
tão perseguido por caçadores,
vulnerável a incêndios e a atropelamentos
e à fome das onças pintadas...
Esses mamíferos xenartros da família dos mirmecofagídeos
estão ameaçados de extinção enquanto as formigas não,
e a cadeia alimentar estabeleceu o apetite deles
pelas formigas, para equilibrar a quantidade delas
na natureza sapiente e quântica.
Além disso, o tamanduá pode fazer dieta
de cupins, controlar pragas e desequilíbrios.
E Beth. Convenhamos. O tamanduá
É um bichinho engraçadinho, não é?
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