
Ricardo França de Gusmão
5.1.2017
Aprendi com você a falar o subalfabeto das letras
desferidas em labaredas entre sílabas
silêncios sublinguais em que a intenção
conspira e o desejo consente
— onde haverá o nascer do pôr sem pudor do sol —
a desferir coisas sem dizer e a dizer coisas sem falar
como se os lábios fossem metalizados
de poesia
hiato cobiça sem a capatazia compaixão
onde a coisa há
nesse país nossa varanda caixote
de ovos de víboras
Lá não haveria menos mundo
mas uma neurótica nudez em apartheid da sacanagem parida
que giroscópios vigiam
e aplicativos mapeiam um pensamento por segundo
e nada é segregado
nenhum segredo é sonegado
num mundo viciado
em estourar plásticos bolhas
com as unhas
que um dia explodiram ventre de lendeas
e arremessaram arranhões
de sexo e de brigas
nessa neurótica nudez em apartheid da sacanagem parida
na busca da inocência
não vê que as pontes foram dinamitadas
e transmitimos doenças repletas
de desconfiança
ao ponto de não acreditarmos mais
em um copo de água
e nas duas caras das metáforas
do bom dia
em subdistância
desconfia
Assisto meus amigos definharem
sem refúgio sindicalista
uns se matam, outros suicidas
e o esclarecimento dessa dicotomia
é substância
Morremos em nós, a sós,
em coletividade,
morremos na qualificação que não temos
para não sermos
o que não mais não poderemos
posto que
há uma legitimidade neurótica nudez
em apartheid da sacanagem parida.
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