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A PRIVATIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 5 de nov. de 2022
  • 3 min de leitura


Ricardo França de Gusmão

7.5.2021

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— Delegado?

— Pois não, inspetor! Sem formalidades. A que deve a sua ilustre visita em meu gabinete? Há algum problema no nosso Setor de Inteligência?

— Delegado, não usarei de meias palavras após a operação de ontem...

— Exageramos, não é?

— Muito.

— E como está a repercussão?

— Na comunidade, no país ou no Planeta?

— Entendi. Não é mais necessário responder. Mas me atualize.

— Delegado... Como o senhor bem sabe... A comunidade fica do outro lado da rua...

— E como não saberia? Dá para vê-la até mesmo via satélite, de tão grande... Pelo Google Maps...

— Exatamente. Pois nesse momento precisamos acionar o Batalhão de Choque. Os favelados estão querendo invadir aqui, a gente... Tem uma multidão lá fora pedindo "justiça". E o governador, pressionado pelos ativistas de Direitos Humanos, está na nossa cola... Querendo uma explicação convincente...

— Explicação? Mas a política de Segurança é dele e do ex-dele... O WW. lembra? Só na "cabecinha"! Esse é o novo ordenamento para diminuir a criminalidade: "passar o cerol".

— Faz o seguinte. coloca a culpa no Ministério Público... Eles sabiam da operação...

— Que 'vazou', não é delegado? Outro problema. Como aquele relatório da investigação foi parar dentro de uma casa da comunidade?

— Bota a culpa num hacker, inspetor...

— Delegado... Eu tenho uma solução melhor. Mas terá que ser adotada pelo chefe do Executivo, o nosso governador, em consonância com o presidente da República...

— Mas que história é essa, inspetor? Voltou a fumar maconha?

— Delegado. Os nossos principais problemas são os políticos da esquerda... E alguns do Centro. Mas também os ativistas de Direitos Humanos e da Paz...

— Essas ONGs novamente... É por isso que na minha opinião a 'bala perdida' tinha que ser legalizada!

— Também, doutor. Também. Assim como o Excludente de Ilicitude. Mas, no momento, temos uma estratégia melhor.

— Pois então diga logo, inspetor!

— Senhor... Numa conversa com um cabo e o soldado da guarita... Entramos em acordo sobre uma solução em relação a esses comunistas dos Direitos Humanos.

— Hummmm... E qual seria?

— Delegado. O senhor tem que aproveitar essa crise para 'passar a boiada'. Conversar com o governador pra ele conversar com o presidente — agora sem o incômodo do WW — para que os dois assinem decretos de lei. Um para o Rio de Janeiro, sem parecer intervenção, mas uma demonstração de sintonia política, e outro, presidencial, que valeria para todo país.

— E sobre o que versariam essas leis?

— A privatização dos Direitos Humanos no Brasil, senhor.

— O quê? Privatizar o DH???

— Sim senhor.

— Mas com qual objetivo, inspetor?

— Delegado... Nosso serviço de inteligência fez um levantamento nos últimos 15 anos e descobriu que praticamente 100% dos ativistas de DH e da Paz, Meio Ambiente... Essas coisas... Pertencem realmente a ONGs. Ou seja: Terceiro Setor!

— Quinze anos investigando isso??? É por isso que ainda não encontramos o corpo do Amarildo, do Carelli...

— Talvez sim, senhor. Mas então? Vou completar. Uma vez privatizado os Direitos Humanos e suas variantes... Essa galera migraria para empresas privadas de Direitos Humanos, controladas por acionistas amigos nossos.

— E daí?

— Daí que eles seriam demitidos por essas empresas políticas-ideológicas. Alegaríamos a crise por conta da pandemia. Uma vez desempregados cairiam na informalidade, na inércia, no desânimo, na fome. Deixando de serem auto-sustentáveis... Iriam parar com esse negócio de ficar mobilizando favelado toda vez que a gente joga 'inseticida' em uma comunidade... O que o senhor acha?

— Inspetor... O senhor me surpreende! Fico impressionado como o senhor consegue pensar antes de mim, coisas que eu iria pensar!

— Obrigado, senhor.

— Okay. Vou ligar para o chefe de Gabinete do governador. Ele vai adorar essa ideia... Vai economizar com projetos sociais, inclusive. É como agir contra o tráfico. Temos que tirar a fonte de captação de dinheiro deles.

— Ótimo, senhor! Sugiro como nome do decreto-lei "LEI DOS DIREITOS HUMANOS S/A". Ou "& CIA". Ou Ltda...

— Perfeito! E como está a nossa próxima operação?

— Com inteligência e planejamento, nós vamos dinamitar toda a rede de esgoto da favela da Rocinha, delegado. Já temos três testemunhas que dirão à imprensa que a comunidade implodiu por causa de um botijão de gás clandestino. Eles já estão com os scripts. E a nossa assessoria de imprensa está fazendo o 'media training' deles.




 
 
 

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