ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL: “DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA EJA: PRINCÍPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA"
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- 21 de abr. de 2022
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ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL / “DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA EJA: OS PRINCÍPIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA TRABALHO E A GERAÇÃO DE RENDA”
Por Ricardo França de Gusmão
Rio de Janeiro, 21 de abril de 2022

O modelo educacional brasileiro é ‘tecido’ por duas ‘cordas’ em dicotomia: uma delas ‘tricola’ a ‘teia’ da educação funcional, técnica e pragmática que sustenta o sistema político-social e econômico neoliberal ou capitalista. A outra busca, a partir da diversidade, inclusão e da alfabetização, da construção e do conhecimento crítico, equalizar as oportunidades no mercado de trabalho e da geração de renda a partir do princípio da economia solidária.
Há, portanto, nessas ‘Cuerdas’ (Cuerdas" — referência — é o segundo curta-metragem de Pedro Solís García. Cuerdas. Vncedor do Goya® 2014 na categoria de "Melhor curta-metragem de animação espanhola". Trabalha o tema da exclusão X inclusão e de práticas pedagógicas voltadas para estudantes especiais na escola), o retrato, hoje, de um Brasil polarizado, cujos sujeitos nesse ‘tabuleiro’ da educação e do trabalho, ‘duelam’ pela hegemonia de um sistema que coloca em nítida oposição estrutural a construção de bases de um projeto de governo versus um projeto de país.
Na ponta dessas duas ‘cordas’ estão a escola (cito ciclos fundamental, médio e EJA) e, a outra, mais à frente (no caso da EJA concomitantemente), o mercado de trabalho. Na história dos sistemas educacionais do Brasil — a cada época — os conceitos de Educação e de práticas político-pedagógicas foram sendo erigidos de forma verticalizada (pelo poder), e paralela, por meio da evolução crítica, política e social da classe trabalhadora. A Educação é a chave do controle social pelo Estado, e do processo seletivo natural do modelo econômico vigente: seletivo e operacional.
Contudo — na tensão entre as forças dessas duas ‘cordas’ — educadores, pesquisadores e cientistas sociais convergem ao concluir que o fortalecimento de uma sociedade mais justa e digna, começa na construção da cidadania e de seus valores. Já a partir do ensino fundamental e, nos casos especiais, na EJA. Leis, estatutos e convenções nacionais e internacionais garantem, em seus artigos voltados aos Direitos Humanos, o acesso da criança à educação, à inclusão, o reconhecimento e a aceitação da diversidade. “Ser diferente é normal” (Freire).
No curta-metragem ‘Cueras’, a pequena Maria, de forma instintiva e subliminar, ‘substituiu’ o sistema pedagógico de inclusão inexistente no orfanato-escola, de acordo com a narrativa do roteiro. E, como uma ‘professora’ com visão inclusiva tenta, a partir de diversas inovações pedagógicas, abrir canais de aproximação, comunicação e interação com seu amiguinho, portador de paralisia cerebral. Não aparece nenhum professor capacitado na história. Falha do sistema? Ou uma denúncia lúdica de como o ‘sistema educacional’ ainda trata os diferentes, que, muitas vezes são considerados ‘dependentes e improdutivos’. O tal do “estranho” ou “diferente”?
Na linha do tempo dessa história, temos diversas pontuações sobre o entendimento de uma educação mais humana e digna, na cidade, no campo, no quilombo, na aldeia indígena, nas comunidades ribeirinhas e tradicionais... A questão ambiental, ecológica, de gênero, Direitos Humanos, questões inclusivas. Pontos de extrema importância na elaboração de uma grade curricular nos cursos de licenciatura e de formação de professores no ensino médio.
A construção de um ser social, de um trabalhador crítico, passa, primeiro, pela formação de um docente verdadeiramente consciente de sua missão construtivista e propositiva. Mas, para isso, é necessário ter emancipação e indignação para ser um agente transformador, capaz de formar cidadãos transformadores inseridos em uma sociedade transformadora. A mudança chega após percorrer os caminhos da legalidade (legislação), da sua fisiologia estrutural, pedagógica e social.
Essa realidade, ancorada nos cinco princípios do educador Paulo Freire — Historicidade; inclusão; conscientização; diálogo e libertação — é o ‘caminho das pedras’, onde, ainda de acordo com o mestre Freire, “se aprende com a diferença, e não com a igualdade”. Somos diferentes por natureza, biológica, regionais, políticas, sociais, raciais, religiosas, culturais... Mas é essa ‘miscigenação’ que nos iguala enquanto povo, no que entendemos ser uma Nação. E tudo isso começa dentro de uma sala de aula. Do ensino comum ou na EJA. Quem sabe, talvez, mais especialmente na EJA?
Apertando e entrelaçando ainda mais a ‘corda’ que tece a teia da inclusão, da equidade e igualdade de oportunidades, abrimos, com essa ‘chave’ as portas do mercado de trabalho. Da economia formal e informal. Dos controladores dos meios de produção e da chamada classe trabalhadora. E, novamente, percebemos — agora no tabuleiro da sobrevivência e da dignidade cidadã — que a Educação foi determinante para a construção das classes/extratos (e das castas) sociais.
A elaboração desse ecossistema começa por meio das opções políticas que, no estado de direito, advém das escolhas da própria sociedade. E até mesmo nos momentos decisivos dessas escolhas, a formação educacional do indivíduo — bem como o meio em que ele vive — será determinante. Não apenas para ele, mas, agora, também, para o coletivo.
No estudo em docência para a EJA, aprendemos, ao ler a Cartilha Nacional de Mobilização Social, que há uma terceira via de trabalho e renda erigira a partir da inclusão, da autogestão, da democracia e da cooperação. Temos, então, os exemplos dos modelos das cooperativas de trabalhadores, a exemplo dos casos do Projeto Cooperminas; Banco de Palma e do Projeto Catende Harmonia. Quando os trabalhadores assumiram a gestão de forma cooperativada.
São esses valores, da Educação inclusiva, do conhecimento e do trabalho, que edificam a Economia Solidária. É quando ocorre a inversão da pirâmide do poder administrativo-econômico dos meios de produção. Sai o ‘patrão’ e os ‘acionistas’, e entram os ‘trabalhadores gestores’. Entre eles, estudantes da EJA. Inseridos nos sistemas da educação e do trabalho.
A visão do sistema educacional e da sua ponte com o mercado de trabalho, quando estamos na EJA, deve usar os ‘óculos’ do entendimento de que o discente — diferentemente do aluno que conclui e avança de forma regular e sistemática nos ciclos escolares básicos (Ensino Fundamental e Ensino Médio), faz parte do caldo que constrói e, ao mesmo, põe em prática o educando, o cidadão social, crítico e o trabalhador. O que torna o ensino-aprendizagem mais suave ou sofrido, devido às intercorrências de uma vida atribulada.
Nesse estágio, os educandos não são mais meninos ou meninas, cidadãos em formação. Cada um carrega suas experiências de vida pessoas submetidas às diversas relações com instituições e pátrios poderes. Que podem ter sido positivas ou negativas. Com ou sem oportunidades.
São universos já formados cujas realidades desafiam — muito além das políticas educacionais, por exemplo, do Novo Ensino Médio e das novas tecnologias — a capacidade que exige a ‘reinvenção’ do ‘ser professor’. É quando o ‘mestre’, ‘neocapacitado’ ou não, testará suas habilidades de empatia, amor e devoção ao seu ofício. Uma oportunidade de exercitar e recriar métodos pedagógicos de inclusão.
Talvez não tenha sido por acaso ou mera imaginação que, um dia, o poeta Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987), escreveu no livro ‘Sentimento do Mundo’ (1940), o poema ‘Os Ombros Suportam o Mundo’. Uma mensagem de perseverança que tem a altivez dos professores de todas as épocas, em meio a todas as tempestades de tecnologias, políticas pedagógicas e desafios de ser, talvez, tal como a Maria retratada na lúdica película, o principal ‘tecelão’ da nossa sociedade. ‘Coerdas’...
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