“EU NÃO QUERO MORRER!”
- Admin
- 2 de fev. de 2022
- 2 min de leitura

Ricardo França de Gusmão
2.2.22
.
As pauladas dos rinocerontes de bem
Seus escritórios cerebrais, batem na cor
Das peles negras além do além do mais
E a paulada beija, beija a paulada beija
Beija beija beija beija beija a paulada
Beija porrada porrada porrada porrada
E a paulada faz da porrada um grito
Às margens plácidas do quiosque Tropicália:
.
“Eu não quero morrer!”
.
Mas a paulada é surda e a surra
É absurda e sabe onde bate, onde dá
Enquanto mãos sufocar a necessidade de ar
E foi a vez do congolês
Moïse Mugenyi Kabagambe
Sofrer sofrer sofrer antes de morrer
Por R$ 200
Com o qual ele iria pagar para comer
A conta de viver no Rio de Janeiro
O plano piloto de milicianos
Mão de obra especializada
Nas várias formas de matar
.
E a paulada beija, beija a paulada beija
Beija beija beija beija beija a paulada
Beija porrada porrada porrada porrada
E a paulada faz da porrada um grito:
.
“Eu não quero morrer!”
.
E sobre ele os rinocerontes de aluguel
Abaixo dele o inferno, acima o céu
Entre a África das foices e o Brasil do porrete
Moïse Mugenyi Kabagambe
Agora, aqui, é você
Toma porrada, negro! Toma porrada, negro!
Toma porrada, negro! Toma porrada, negro!
O dinheiro do seu trabalho
Está com sangue molhado
Morre negro, morre negro
Enquanto o dono do quiosque
Anônimo comerciante, nobre,
Assiste televisão com sua família.
.
A sua família, negro Kabagambe?
A sua comunidade?
A mulher da sua vida?
Os filhos que não pode ter?
Aqui não são direito de negro ter.
Dá agora a tua cabeça negro.
Dá ela pro porrete abrir, sangrar
E te arrancar a vida.
A Justiça?
Ah, a Justiça!
É uma questão de narrativa.
.
As 30 pauladas lhe pertencem e estão vivas
No vídeo que eu vi
O culpado da sua morte, negro Kabagambe,
- o fim do seu porvir -
Será você
E a mentira, terras de esquecimento,
Levará amanhã, outro de cor de pele escura
Outro igual a você.
Comments