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IMBUÍDO PELO ARQUÉTIPO DA MATERNIDADE

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 8 de mai. de 2022
  • 4 min de leitura

Por Ricardo França

1-5-2017


Oi, jornalista.

Oi, pequeno Einstein. Acordou cedo.

Na verdade não dormi.

Por que não? O que houve?

Estou tendo uma inquietação.

Você está tomando os remédios?

Estou, mas é uma inquietação biológica e abrupta.

Vamos conversar fora da ‘Casa’.

A minha inquietação biológica e abrupta pode ir comigo?

Sim. Podem vir vocês três.

Domingo é Dia das Mães.

Sim. É um dia especial, mas, para mim, todos os dias são dias das mães e dos pais...

Você tem mãe, jornalista? Jornalistas têm mães?

Todos temos mães, pequeno Einstein. Afinal, de onde viríamos se não fossem nossas mães?

Eu acho que não vim de uma mãe.

E por onde você veio?

De onde você tirou isso, amigo?

Dos arquétipos. Sou feito com o sêmen dos arquétipos que inseminaram os ventres das deusas mães. Então eu nasci do inconsciente coletivo. Careço de mãe biológica.

A sua mãe não o visita aqui, semanalmente?

Ela é uma mulher remunerada pela administração da ‘Casa’, para ser a Deusa-Mãe dos arquétipos. Mas nós somos muitos e ela ganha pouco. É assalariada. Talvez não venha neste domingo. Você me empresta a sua mãe, jornalista?

Olha, pequeno Einstein... Cada um tem a sua mãe. Mãe não se empresta. Você tem a sua e você não é um arquétipo, nem um filho do inconsciente coletivo.

Como você pode ser tão tolo, jornalista?

Sou racional e você está sob delírio.

Vou te falar um segredo que eu escondi esse tempo todo. Peço a sua discrição.

Pode falar. Guardarei o seu segredo.

Sou o filho bastardo da Mãe Durga, minha Kali Ma. Ela tem três olhos e 12 braços, para abraçar meus irmãos legítimos.

Pequeno Einstein, a Mãe Durga e o seu grande Leão, é mitológica, uma criatura do hinduísmo... Lá na Índia. De onde você tirou essa ideia?

Porque eu sou um arquétipo do inconsciente coletivo com uma inquietação biológica e abrupta. Você não memoriza o que falo, não?

Tudo bem, pequeno Einstein. Então sua mãe Durga virá visitá-lo neste domingo?

Não.

E por que não?

Porque ela tem mais filhos do que seus braços. Não pode abraçar a todos. Portanto, me empresta a sua mãe, neste domingo?

Pequeno Einstein, já disse que mãe não se empresta.

Então pode ser o seu pai. Seu pai pode ser a minha mãe neste domingo?

Pai não pode ser mãe, pequeno Einstein!

Mas pode fingir.

Não. Não emprestarei minha mãe nem meu pai. E você tem mãe sim, porque eu já a vi.

A mulher que você vê me visitar não é a minha mãe. Ela é terceirizada.

Não pode ser terceirizada pois ela o pariu.

Eu nasci de uma barriga de aluguel inseminada por esperma guardado em um banco de sêmen congelado.

Mas que viagem é essa, pequeno Einstein?

Igual a mim há vários por aí... Somos todos arquétipos, filhos da Mãe Durga. Me empresta a sua mãe...

Olha, o tempo de visita aqui na ‘Casa’ é curto. A sua mãe virá e você poderá abraçá-la, e agradecer pela sua vida, que ela concebeu e gerou. Cada um com a sua mãe.

Jornalista, pai também pode ser mãe?

Em caso de separação, se o pai ganhar a guarda do filho na Justiça, ele terá que fazer o papel de pai e de mãe... Isso é normal e acontece o contrário também. Há mulheres que cuidam de seus filhos, são mães e pais, posto a lacuna do pai ausente.

Jornalista... Se domingo eu deixar de ser arquétipo por algumas horas você pode ser a minha mãe?

O que é isso, companheiro?

Sempre sonhei em ter uma mãe como você...

Bom, tudo bem... Se for para colaborar para a sua completude e acalmar essa agitação. Mas você poderá me dar no máximo três abraços. Ok?

Tá, mãe! Minha mãezinha linda! Minha mãezinha linda! Minha mãezinha linda!

Você quer parar de ficar fazendo alarde?!

Mãe, você está me tolhendo. Você é muito possessiva! Se continuar assim, não vai ganhar presente no domingo!

Mas domingo é Dia das Mães! Como assim não irei ganhar presente, meu pequeno Einstein???

Tá vendo? Você é uma mãe interesseira, jornalista! Quer saber? Não quero ser mais ser o seu filho!

Ok. Então volta a ser arquétipo da sua mãe terceirizada e da madrasta hinduísta.

Mãe, eu estava brincando de fazer malcriação... Me coloca no colo e conta uma história para eu dormir?

Olha, filho, meu querido atormentado Einstein, sua mãe agora vai arrumar a casa, tá?

Mas mãeeeee...

Para de fazer chilique! Respeita a sua mãe!

Tá mãe... Te amo! Por falar nisso, mãe, você viu o jornalista por aí? Estávamos conversando há pouco...

Não, meu filhinho. Segunda-feira ele aparece novamente. Eu também te amo, meu filho...

 
 
 

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