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“O ELVIS NÃO MORREU?"

Foto do escritor: AdminAdmin

Atualizado: 12 de out. de 2022

Ricardo França de Gusmão

20.8.2022

(A origem das metodologias das agências de checagem de fatos brasileiras)


“O ELVIS NÃO MORREU?"

Ricardo França de Gusmão

20.8.2022

.

— Amiga...

— O que foi amiga?

— Eu tô puta, amiga!

— Mas o que foi que houve?

— Um idiota postou no Facebook que o Elvus não morreu!

— Sim... Mas e aí?

— Eu acreditei, amiga! Eu acreditei!

— Mas como você pode ter acreditado nisso, linda?

— É que tinha um monte de gente curtindo...Daí eu acreditei,

Até que um carinha colocou a fotografia dele num caixão,

Com madeira do Mississipi... Tinha nota fiscal e tudo mais...

— ‘Miga’... Sabia que tem muita gente que tá fazendo isso hoje em dia?

— Dizendo que o Elvis não morreu?

— Sim. Sim. Sim. Mas muito mais que o Elvis! E tem gente como você, de bom coração, que acredita...

— Mas por que essas pessoas fazem isso, ‘miga’?

— Sei lá.... Uns dizem que é política. Polarização. Desinformação. Mas no seu caso foi sacanagem mesmo. Desumanidade! A gente morre, sabia?

— Morre, ‘miga’?

— Sim, ‘Miga’, a gente morre mesmo.

— Então é verdade mesmo! O Elvis morreu!!!!

— ‘Miga’. Presta atenção. Ainda estamos vivas, entendeu?

— Sim. Quer dizer... Acho que sim... Não tenho muita certeza de mais nada. Vai que eu morri também e estou num universo paralelo...

— ‘Miga’. Presta atenção. Você disse tudo. Eu não havia pensado nisso ainda. Mas vamos ficar ricas!

— Ricas?

— Sim. Ricas!

— Mas como?

— Criando um universo paralelo dentro do universo on line!

— Não estou entendendo nada, ‘miga’...

— Olha. Nós duas somos jornalistas, lembra?

— Sim. Tempo bom aqueles...

— Mas agora vamos aproveitar o lance aí...

— Que ‘lance’?

— Não teve esse alguém que disse que o Elvis não morreu?

— Ai, ‘miga’... Não me lembra.... Amo o Elvis...

— Então... Vamos abrir cada uma, uma empresa... Para vigiar, tipo assim, 'policiar' e punir quem, tipo assim, falar que o Elvis está vivo!

— Mas como, ‘miga’?

— Vamos criar um nome... Pensa comigo... Como é ‘falso’ em inglês? Fica mais crível quando é em inglês...

— Fake?

— Isso! ‘Fake’! Mas precisa de um complemento. É fato.

— Amiga... No jornalismo um fato jornalístico não é notícia?

— Isso, ‘miga’! “Fake News!”! News = notícia! Vamos montar uma empresa caçadora de fatos falsos e cobrar por esse serviço!

— Mas quem cobraria por uma coisa que os repórteres dos jornais já fazem, ‘miga’? E, além do mais, estamos desempregadas...

— Vamos abrir empresas especializadas em checar esses fatos do tipo do Elvis... Vem eleições aí! É muita grana, amiga!

— Mas essa empresa é regularizada?

— Claro que não. Ainda, pelo menos. A Lei que regula a nossa categoria é de 1969 atualizada em 1974... Ainda não existia nem internet, redes sociais... Muito menos a função de “checador de fatos”...

— Mas existe essa função, ’miga’?

— Claro que não. Nós estamos criando agora!

— Hummm. Entendi. E como vamos provar que uma informação é verdadeira... ou falsa? Fato... ou fake?

— Nós vamos 'desinformar', minha linda! Vamos criar alguns 'critérios' para relativar o 'conceito' de verdade... e de mentira... Vamos criar uma terceira via, uma quarta via do que é verdadeiro... Enciclopédias e dicionários servem para isso...

— Quer dier que vamos transformar uma notícia num poema? Tipo... interpretação de textos?

— EXATO!

— ‘Miga’... Você é muito inteligente... Mas se não existe esse modelo de negócio ainda no Brasil por causa da legislação... O que vamos dizer, em nossos CNPJs, nas razões sociais, a natureza do que fazemos? O que somos?

— Simples. Vamos burlar. Interpretar. Vamos dizer que somos uma assessoria de imprensa. E uma agência de notícias.

— E como vamos fazer para desmentir ou requalificar um fato na internet?

— Simples. Vamos relativar, como falei. A gente bate na reputação do emissor da mensagem e nos qualificamos como uma espécie de “Ministério da Verdade”. Você leu o livro 1984?

— Parei na metade...

— Ok. Olha. Vamos confundir. Criar versões para que um fato seja considerado verdade, mentira, mais ou menos, quase lá, ‘tá quente’, ‘tá frio’, ‘enviesado’, ‘próximo’, 'falso positivo’, ‘falso negativo’, ‘acerto querubim’, ‘falso tempestade’... Com essa metodologia seremos donas das narrativas! E ofereceremos nossos serviços para o Twitter, WhatsApp, Youtube, Instagram, Facebook, Justiça Eleitoral... Eles querem ficar bem na fita na opinião pública, e nós, ‘miga’, somos a ‘cura’!

— ‘Miga’! Você é fantástica! Nossa! Me faz lembrar do Olavo de Carvalho, Donald Trump e Joseph Goebbels!

— Mas ‘miga’... Esses critérios não irão ressignificar apenas os fatos. Mas também as frases, os contextos, e, principalmente, a morfologia e as sintaxes frasais! E poderemos reinterpretar, inclusive, a morte do 'seu' Elvis, miga...!

— Mas ele não morreu, ‘miga’?

— Não, ‘miga’. Essa ‘verdade’ não pertence mais "aos fatos". É uma questão de ilusão de óptica de discurso narrativo, visto sob o ponto de vista de uma "lupa"! Quanto mais a gente tarjar, perseguir o emissor, confundir o receptor, marginalizar as interpretações... mais poder nós teremos!

— Mas, ‘miga’, e os sindicatos dos jornalistas? Suas Comissões de Éticas?

— ‘Miga’. Já conversei com uma dirigente. A partir de agora eles não irão intervir nas “agências de checagens brasileiras”... Enquanto nossos ‘canhões’ estiverem apontados politicamente para o lado oposto daquilo que, para eles, é considerado inconveniente...

— Miga, fala com sinceridade. Você pensou tudo isso agora?

— Não, ‘miga’. Foi ontem. Quando eu postei no Facebook que o Elvis estava vivo...


>>> Jornalista, professor e poeta, Ricardo França de Gusmão, 54 anos, é detentor de vários prêmios literários. Conquistou três prêmios de reportagens sobre Direitos Humanos, dois internacionais, e um de dimensão nacional, na condição de repórter especial e professor orientador universitário. Trabalhou na imprensa escrita, TVs, assessorias de imprensa, internet e Academia. Publicou 27 livros de poesia, contos e crônicas.

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BIBLIOGRAFIA POETA RICARDO FRANÇA DE GUSMÃO

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LISTA DOS LIVROS EM ORDEM CRONOLÓGICA DE PUBLICAÇÃO:


>>> O PORÃO DAS RUAS: SARS.COV.2.COM.BR (ASIN ‏: ‎ B095VFHZYZ) / 1ª edição (24 maio 2021) / Selo editorial: Independently published

>>> PÍLULAS DE DESASSOSSEGO: A Poesia como indicação terapêutica. (ASIN: ‎ B096691BCP) / 1ª edição (29 maio 2021) / Selo editorial: Independently published

>>> O POEMA QUE MORREU, EU E OUTRAS VÍTIMAS: Quando um poema morre, é hora de guardar as esperanças em um cofre (ASIN‏: ‎ B0968TLT9D) / 2º edição (30 maio 2021) / Selo editorial: Independently published

>>> A MANGA INCOMPATÍVEL NO DEPÓSITO DAS MÁQUINAS: Seja a liberdade da sua loucura ao tomar posse do inadequado: Diga não! (ASIN: ‎B09694XM3N) / 1ª edição (31 maio 2021) / Selo editorial: Independently published

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>>> A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DO ESTAGIÁRIO CHARLES LAWINSK: O segredo do nanobiochip terrorista da New Organic Artificial Intelligence / ASIN: ‎ B09HP7CMW1 /1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> JANELAS DA ALMA – Nunca existirá a mais absoluta distância, enquanto pudermos abrir as janelas pinceladas nas paisagens das obras de arte / 24 de julho.2021 / 1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> A ESTÉTICA CARCERÁRIA DA NOVA SAÚDE MENTAL – O relato de uma experiência real em 8 clínicas de tratamento em contorno de poesia / ASIN: ‎B0B6T5J4WP / 17 de julho de 2022 / 1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> “1, 2, 3, 4... 4, 3, 2, 1” – Histórias escritas com palavras de baixo calão / 7 de setembro de 2022 – “200 anos da Independência do Brasil” / 1ª Edição / ASIN : ‎ B0BDDLYWVB / Selo editorial: Independently published


 
 
 

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