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— Como é que faço para me livrar

desses filhos das putas?

Eu disse 'pulgas'?"

— Não, você disse: "putas",

no sentido figurativo

de "parasitas carrapatosos".

Que nojo.

— Mas como não vomitar

ao tomar essa sopa de maldade?

— Coloca orégano.

— Na Medida Provisória?

— Não. Ela, você defeca.

— No Decreto-Lei?

— Não. Ele, você arrota.

— No carro-oficial na garagem do motel?

— Não. Ele, você denuncia.

Vou deixar a barba crescer
Para ser o meu disfarce....
Farei da barba uma moita,
Um arbusto
– um susto? –
Para sobreviver acampado
Na caverna da barba.

Illustrated Jaguar
Rinoceronte
Crocodilo dos desenhos animados
Preguiça
Silhuetas de pássaros

O útero cresce com a progesterona quando um espermatozóide consegue, e, de repente, daquela barrigona nasce mais um da mesma espécie. Roupas amarelas cobriram a humanidade das pessoas de carne causando 0,3411672 de tristeza no ventrículo esquerdo de seus respectivos chip’s. As universidades inventaram as Trompas de Falópio de fibra óptica bio-psico-social e a placenta com álcool em gel: seremos parte da internet das coisas. Ninguém Ama-Zônia. O-Zônio também perece. O vírus especializou-se no intermediário das coisas que se completam. Já não chegamos mais perto.
Nem de longe, provavelmente, chegamos.Talvez, plastificados, possamos travar um diálogo, um mínimo de contato na turbulência epitelial do mundo.

Um dia ele resolveu não mais sair da cama.
Não ir mais pra lugar nenhum.
A sua cama passou a ser a sua caverna.
E sob dois cobertores
Se protegeu do mundo.
Do lado de fora da caverna, pela fresta da janela,
Pássaros mergulhavam no mar 
Feito pelas folhas da copa de uma mangueira.

Image by Wolfgang Hasselmann
Tag da bagagem do vintage
Image by Gidon Wessner

Não costumo, sinceramente, escrever poemas assim. Sinto-me demagógico. Mas dessa vez, realmente temo. O que já aconteceu. O que virá. O que restará. Porque nós negligenciamos, sim, a quarentena. Zombamos mais uma vez da mensagem notória. Ainda temos a capacidade de arrotar arrogância. Ela é o vírus metamorfoseado em nudez humana.

Peixes na rede
Image by David Clode
Grupo de folhas verdes
TV SUMAÚMA
plantas tropicais

Jornalista, professor e poeta, Ricardo França de Gusmão, 56 anos, carioca,  é detentor de vários prêmios literários. Laureado com três prêmios de reportagens de Direitos Humanos, dois internacionais, além de um de dimensão nacional, foi professor universitário. Trabalhou na imprensa escrita, TVs, assessorias de imprensa, internet e na Academia. Possui 31 livros de poesia, crônicas e contos. Selo editorial: Independently published

Peixes com Esboço Escalas
Esboço da solha dos peixes