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A ESTRANHA LENDA BOTÂNICA DO JOÃO, MENINO COM ASMA RENASCIDO EM DIAFRAGMA DE ÁRVORE ENTRE IGARAPÉS

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 20 de jan. de 2022
  • 4 min de leitura

Por Ricardo França de Gusmão

2021


Tudo aconteceu num dia tecnológico em que João estava sentindo falta de ar Vítima de coisa tal asma ou fantasma que dá em menino com coragem de medo. “Inspira, João! Inspira! Inspira João! João inspira!” Gritava uma voz trovejada do céu em meio ao badalar do sino eletromagnético Progresso da surrealidade de barros durante uma chuva de tecnologia Programada pela inteligência artificial municipal daquela cidade A fim de melhorar a conexão 3G dos telefones da geração dos celulares Nas periferias e comunidades semi-analógicas de anêmicos EaDs. E João inspirou. Inspirou. Inspirou... Até o céu ficar côncavo. Com o garoto inflado em colapso orgânico vermelho-azulado. Mas para que, João, tanto ar pela boca mastigado, respirado e armazenado? E se houver um alfinete de esquecimento, deixado pelo alfaiate, No sovaco da camisa? Ou espinho de cactos no quintal Além de porcos-espinhos abruptos, lá no virar da esquina? Hein, João, seu menino? Vê se aprende a respirar devagarinho... Em caso de acidente igual a fogo perto de gasolina, será “bum!”, João, o ‘big-bang’ da sua barriga. Então expira, João, expira! Seus alvéolos pulmonares Já irrigaram os glóbulos vermelhos doces maçãs de sangue! Você está cheio de oxigênio, João, o gás da vida! Por isso, garoto, respirar é um constante recalibrar unânime E sustentável no meio ambiente do nosso sistema vascular. Mas, João, na hora da inspiração inspirativa Veio uma semente embrulhada no fluxo de ar De alguma coisa respectivamente vegetal engolida Que agora em você em velocidade 5G germina 2 Cria em seus pés descalços, raízes fortes espraiadas Na terra molhada dos igarapés e adentra pela mata... João, você está biomolecular-administrativamente vasto, A virar árvore! Jõão, você não sente o hidrocor da mudança? De ex-gente, gente-árvore ou coisa híbrida em desalinho de criança? Minha nossa, João! Esses galhos sem alhos com bugalhos Talhados pela ecologia eclodem na sua cabeça e nos seus braços João... Você virou uma confusão humano-botânica danada Que para aparar os seus cabelos no lugar do cabeleireiro Terá que vir um jardineiro, cuidado com os madeireiros E com as queimadas proporcionadas pelo agronegócio Tudo isso é deveras muito ilógico, um tanto próximo do agrotóxico As suas folhas respiram gás-carbônico e libertam oxigênio, João, você aprendeu a fotossíntese, menino, e isso é sistêmico, Está cheio de macacos nos seus galhos, micos e preguiças Suas frutas e suas futuras sementes irão germinar nesse pomar De outros Joões feitos com possibilidades de árvores ou hostaliças E a sua seiva, garoto, poderá sangrar ao covarde corte dos facões E das serras elétricas, e dos macabros machados machos do lucro Ao serrar dos serrotes a serragem dos seus braços irão tombar Mas não para de respirar sua árvore, João, você é uma simbiose! Não para de respirar o ar da sua botânica transformação! João você agora faz parte da paisagem da floresta E perfuma as vilas ribeirinhas em festa de conexão Além das aldeias dos povos originários, João, significa? Você é um milagre, versículos tecnológicos transversais? Ou uma lenda que está sendo escrita agora em letras manuscritas Em rochas ou nas toras das últimas árvores horizontais? “João, abre essa porta? Abre essa porta João? João, arbe?” “Toc toc toc”! 3 E amanheceu o dia à meia-noite vinculada Quando saiu do tronco da árvore de raro biocimento O garoto com inocência de menino e corpo em nudez de João Surgiu então da escuridão, naquele meio-dia meia-noite, Entre pirilampos, capivaras, onças, macacos e jiboias Inocentes, jacarés, crocodilos, corujas, tartarugas de rio, Botos rosas a saltarem em buquês de vento no ar em meio Às ondas da banda 5G, cuja antena acabara de ser instalada, Na Amazônia iônica em inversas cargas eletrostáticas... João fez com o dedo a posição do silêncio em seus lábios. Levantou para o alto ambas as mãos, dando passagem Aos seres da mata, povos das lendas e das mitologias Enquanto as rezas rezavam-se sozinhas em ladainha O menino-astronauta, em sua árvore de vida escreveu com um graveto de si em risco na terra o idioma da fauna e da flora, na fonética da brisa com as rimas das folhas secas, para alertar que a tecnologia da comunicação era um fake de bondade, uma rede de pesca, um galão de gasolina, mercúrio que limpa ouro e nióbio, trator que devasta, traficante de plantas medicinais e de insetos tropicais E que os dias que viriam a seguir seriam feitos de maldade: 24 horas de claridade e 24 horas de escuridão Enfim, antes de retornar pela mesma porta da qual saiu João prometeu frutificar o ano inteiro, em proteção à floresta Mas que a missão de ser uma árvore frondosa e bela Deve ser uma vacina coletiva de fruto e sombra Para toda a vida que dói, para todo fantasma que assombra. Depois que se foi João, ficou a árvore do menino. O dia e a noite amaram-se na cama feita de alvorada e entardecer: E surgiu a boa sombra da tranquilidade 4 antes dos Apart Hoteis chegarem, dos estrangeiros cassinos e do caça-eco-turismo sobre a floresta submersa e renovada a cada vento de respiração da árvore da vida: João. A Amazônia que vale mais que ouro. Antes e depois do caos vindouro. Está rezada

 
 
 

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