EU
- Admin
- 2 de nov. de 2022
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EU
Ricardo França de Gusmão
2.11.2022
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Andei pelas estradas da minha vida inteira
Tentando me procurar sem saber-me
Que eu já me era
Quem eu tentava encontrar
Me deparar como se frente a um espelho
E o mais interessante da minha surpresa
Foi que nunca me percebi
Pois me via em várias parcelas
E não me percebia quem eu me era
.
E escrevi poemas e reportagens
Tentando denunciar o mundo que me escondia
E não sabia que a minha vida
Já era uma poesia
Mas cada palavra e folha de caderno
E página de jornal
Eu na verdade me escrevia
Eu era um voo sem pássaro
Um barco navegante
Eu nele habitante
A tentar descobrir um novo continente
Que fosse-me
.
Mas eu já me era.
Eu era a semente e a minha jornada, a terra
Eu já me era
Só ainda não era a minha primavera
.
E nessa minha busca errei
De mim
Mas acho que não há quem
Nunca errou-se
E eu tomei posse do erro
Pois eu era o erro e ele me acrescentava
Numa estranha soma de errar para aprender
A ser
.
Hoje eu até me sinto bonito
Sem a vaidade de me sentir
Bonito
Pois não é uma boniteza física
É uma estética de ser-me
Com toda a capacidade
De ser-me para o mundo
E isso é muito estranhamente legal
Pois eu não sou e nunca serei
O presidente do mundo
.
E não quero ser o presidente do mundo
Pois depois que me encontrei
Percebi
Que eu sou o mundo
De mim
E administrar quem sou
Exige-me tanto e eu sou um
Sem ministérios e alianças
E a maior de todas as descobertas
É que nessa travessia
Vi-me, ainda, nessa andança
Uma criança na idade que me fez adulto.
E isso é bonito demais.
Ter conseguido até aqui
Encontrar-me
Em mim.
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