A CPI DAS NOTAS OFICIAIS MANIPULADAS PELAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA TERCEIRIZADAS

Ricardo França

28.2.21

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— Gentes... desculpem o atraso... Mas essa chuva causou um caos danado no trânsito! E aí, Genivaldo, tudo bem? Tá escrevendo o que?

— Tô de caô.

— Caô??? Que isso Genivaldo. Sou um chefe bonzinho, mas não abusa, né?

— Ô chefe... Brincadeira. Caô é porque tô escrevendo aqui uma nota oficial pro governo.

— Mas tem nota de gaveta aí, rapaz! É só trocar os nomes... Não muda a metodologia não! Não se mexe em time que está ganhando.

— Claro, chefe. É que essa aqui é um pouco mais complexa.

— Por que?

— Por que tem um deputado de oposição acusando a gente de manipular nota oficial para mentir para a imprensa mentir para a população com o dinheiro o dinheiro público que para a gente...

— Puta merda! Quem é o filho da puta?

— Chefe... Os de sempre... É que ouve um 'racha' na base do governo e eles aproveitaram a oportunidade para pedirem uma abertura de uma CPI..

— CPI???

— Sim. A 'CPI DAS NOTAS OFICIAIS FAKE NEWS'...

— Porra! E eles têm provas suficientes?

— Sim. Dos últimos 12 anos.

— Mas como eles conseguiram???

— Com a gente, chefe. Não somos nós que escrevemos e divulgamos?

— Cacete! Logo agora que está em pauta os comandantes da Polícia que voltaram à ativa após cumprirem pela por corrupção, torturas e execuções...

— Essa é a segunda nota... Mas estou cumprindo aquela determinação... De só liberar na hora do fechamento dos jornais, para que os repórteres não tenham tempo de questionar.

— Boa, Genivaldo! Bom garoto! Você estará na listagem das próximas promoções. E os órgãos de classe? Emitiram alguma nota de repúdio?

— Por enquanto não. Estão no 'cabresto'. Alguns diretores estão desempregados e sonham em algum dia trabalhar aqui...

— Isso. A pena é que parte do nosso faturamento brupo vai para a compra do 'silêncio'... Isso diminui o nosso 15o salário.

— Mas, chefe. Então me ajuda aqui. Veja se isso está bom...

— Deixa eu ler... Hummmm.... Puta merda! Quer acabar de foder a gente, Genivaldo?

— Por que, chefe?

— Você está convocando uma coletiva de imprensa com o governador amanhã de manhã???

— Mas chefe, ele é o alvo dos questionamentos...

— Faz o seguinte... Rasga essa porra dessa nota!

— E escrevo o que?

— Vamos pelo simples. Escreve aí: "NADA A DECLARAR!"

— Mas e se eles invocarem o direito à transparência? E usarem a Lei de Acesso à Informação?

— Liga para o assessor de imprensa chefe lá da justiça. Marca um chope com ele comigo para depois do expediente. Virou caso de 'administração de crises'. Deixa essa comigo. Eu sou o mais graduado daqui. Venho da assessoria de imprensa da Polícia Militar.

— Ok, chefe. Missão passada é missão cumprida...

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OS JORNALISTAS SÃO OS OPERADORES TÉCNICOS NA HIERARQUIA DAS FAKE NEWS. MILICIANAS VIRTUAIS E TB NAS OFICIAIS. AS OFICIAIS SÃO AS ASSESSORIAS DE IMPRENSA. NOMEADAS, TERCEIRIZADAS OU MISTAS. RESERVA DE MERCADO DE TRABALHO. A CATEGORIA PASSA A SER CONIVENTE POR CONTA DISSO: EMPREGO! RF

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"Industrialized Disinformation 2020 - Global Inventory of Organized Social Media Manipulation de Oxford, mapeou 81 países com esse tipo de milícia digital que prática profissionalmente a desinformação. O Brasil conta com grupos pagos para criar e disseminar mentiras a favor da Alt-Right, mas isso está acontecendo no mundo todo. Perceba que em todos os lugares as características são:

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- Escolhe-se um inimigo mortal por vez;

- Criam-se notícias falsas em uma quantidade e frequência tão grandes que seria impossível desmenti-las por métodos tradicionais;

- As notícias surgem simultaneamente em diversos canais de comunicação (mesmo que todos sejam de péssima credibilidade);

- Ataca-se a imprensa tradicional diariamente, tirando o crédito de qualquer informação que venha dela;

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- Constrói-se a narrativa com base em alguns elementos reais, mas distorcendo-os de modo a gerar confusão e impedir a crítica;

As notícias criam narrativas que consistem em afirmar que todas as outras versões de mundo são também “narrativas”, então carregam afetivamente seu conteúdo para que a pessoa se sinta propícia a escolher o lado que prefere;

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- Ganha-se pela quantidade, pela afetividade (geralmente de ódio, mas não exclusivamente) e pela forma (como a lacração, por exemplo, que independe do conteúdo, basta falar algo ofensivo com aparências de “desmascarar” o interlocutor, por mais que ele esteja certo).

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A desinformação é perigosa. É obviamente uma estratégia política inescrupulosa. O que precisamos entender é que não estamos lidando com uma coisa simples como um “gabinete do ódio” e menos ainda com grupos que se reuniram por acaso. Eles estão organizados, só não possuem uma gestão centralizada. Os “hubs” de desinformação simplesmente sabem o que fazer. "