A ESCOLHA DE SEGUIR EM FRENTE OU DE FICAR
- Admin
- 14 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
Ricardo França de Gusmão
14.5.2022

Antes das cidades serem erigidas
Em meio ao nada desertificado
Do lado direto, do lado esquerdo,
Atrás dos dois lados, onde havia
O contorno de tudo em gestação
portanto
Não havia nada então
.
Mas na frente da caminhada
De um astronauta desse mesmo nada
Um muro erguido em pedra
Pedra sobre pedra, lá, sólido,
O muro, sim, estava
Insólito
.
Havia a comprovação que antes
Da junção da terra, da areia, do cimento
E dos metais já existia um muro
No meio do caminho
Antes do haver da ‘pedra
Drummoniana’ eclodir na tez
Do caderno terraplanado
Em berço de celulose
.
Pois o homem poderia ter desviado
O seu destino
Para um lado ou pelo outro
Ou mesmo retornado
Para evitar o inevitável confronto
Da passagem ao decidir seguir
Em frente ao passo que a cada passo
O muro crescia em prenúncio de muralha
Com peitoral muscular daquelas
Que protegiam cidadelas
Medievais
.
E o astronauta sem o artifício
Do flutuar antigravitacional
- ideia ainda não eclodida –
Enfrentou sem desviar, assim
Fora sua escolha: seguir e enfrentar
Derrubar ou escalar
Cavar um túnel submuro
Cavar, cavar, cavar
Engenharia de tatu
Tatuagem
De escapatória
.
Mas eis que o astronauta
Sentou-se à frente do muro
Em tentativa de conversa com ele
Ao tic-tac do tempo
Escorria em duelo silencioso
Entre espadas de paciência
O homem tentava explicar ao muro
Que sua obstrução utilitária
Erra cômica e burra
Já que ele não poderia impedir
A passagem
Além de seus limites
Erguidos
.
Contudo, os ouvidos do muro
Eram de pedra
Emparedados ao diálogo
As palavras eclodiam em teimosas
Rochas
E desletravam-se ao quedar
Ao solo
Palavras de sílabas fraternas
Quase sementes, quase tijolos
Aos poucos o muro transmutava-se
Em homem
E o homem endurecia
O seu propósito
.
Ambos suportaram as eras
E uma cidade surgiu ali
O urbanista e o engenheiro
Respeitaram as duas montanhas
Agora monumentos à persistência
E à perseverança ao porvir
Um jardim nasceu da terra
E floriu a paciência da espera
Sem haver vencedor ou vencido
Sem haver a artimanha
Com estratégia
Violência de trator
Desabamento
Ou tragédia
.
Ainda hoje músicos, pintores
E poetas
Tentam traduzir as flores
Desse confronto
Que transformou o homem
Em muro
E o muro
Retidão de homem.
Havia a fragilidade no absoluto
E a necessidade submetida
Em respeito aos limites
Das causas das coisas
Que também existem desarmadas
Costuradas nos corações
Das pessoas que não desistem.
Chamadas de pessoas
Das causas
Impossíveis.
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