A FESTA DA DEMOCRACIA

Ricardo França de Gusmão

2 de outubro de 2022

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Naquele domingo João despertou

Do delírio/martírio e, por minutos,

Permaneceu na rede a pensar na vida,

Na escola, no posto de saúde da família,

No transporte melhor para o trabalho

Pensou como um embrião sensitivo

Sobre a fome, e aí, veio-lhe na mente,

Um humano e justo prato de comida,

Meditou sua mulher, índia Maria,

Projetou o futuro dos filhos, seus ‘trilhos’,

Imaginou uma boa e segura moradia

E na paz tranquila que viria — um dia —

Com a aposentadoria: a tal pescaria

.

Ele, então, em seguida, levantou-se,

Bebeu um copo d’água da moringa,

Escovou os dentes, banhou-se,

Penteou os cabelos cacheados de sonhos,

Muniu-se com documentos

Nos bolsos da camisa branca,

Abriu as cortinas e encarou

O amarelo do sol ao fundo azul anil

Embrenhou-se pelo verde da floresta

Fresta de oxigênio e sentiu-se

— e era mesmo — um João varonil

.

Em silêncio embarcou traineira rio afora

Ao restinho do vento em popa d’aurora

Rosto sereno, caminhou por terras

Ribeirinhas, rurais, urbanas e quilombolas

Respirou o ar sadio da agricultura

Familiar, cheiro de raízes, frutas, verduras

Com pressa acelerou o passo

Às margens plácidas rumo à ‘festa’

E logo, ao seu lado, um mais um

Também caminhava naquela data

Marcada em comunhão compasso

.

Não eram necessárias camisas, bandeiras,

Diante da certeza do direito de se ter

Todas as certezas de que as diferenças

São iguais no exercício da cidadania,

Planejaram as planilhas dos planos

Dos direitos ambientais, civis e humanos

Do credo, da cor, das escolhas,

Do cheiro de sexo multidisciplinar

Que temos no terreno volátil-tátil

Ao além-mar do amor-amar

Diversidade, inclusão do diferente

E nesse hino, o Brasil feminino,

País território cartório cadernos folhas

Nomes em Certidões de Nascimento

Brasil floresta, gentes, Brasil cimento

.

E o homem, agora, ressignificado,

Multiplicado por duzentos milhões

Cada qual com seus sonhos guardados

Caminhando e cantando suas canções

Alinhados em unidade sinfônica

Nação continental, sílaba tônica

— amazônica ancestral —

Pindorama, Ilha de Vera Cruz,

Terra Nova, Terra dos Papagaios,

Terra de Vera Cruz,

Terra de Santa Cruz,

Terra do Brasil,

Brasil, afinal, com entusiasmo

Estava, assim, metaforizado.

.

Gigante colégio eleitoral

Do sufrágio universal

Biometria da alegria manifestação

Da democracia, fotografia

Da urna inviolável, tecnologia

Indevassável, voto confiável,

Auditável

Para o João pós pandemia

Que acordou cedo, com céu ainda escuro,

E veio lá dos rincões do longe demais

Desse Brasil gigante que não acaba mais

A fim de poder votar seguro,

Poder votar em paz.

E sabe por que João ficou mais contente?

Porque João conseguiu sim, eleger

— secretamente —

Seu democrata presidente.

>>> Jornalista, professor e poeta, Ricardo França de Gusmão, 54 anos, é detentor de vários prêmios literários. Conquistou três prêmios de reportagens sobre Direitos Humanos, dois internacionais, e um de dimensão nacional, na condição de repórter especial e professor orientador universitário. Trabalhou na imprensa escrita, TVs, assessorias de imprensa, internet e Academia. Publicou 27 livros de poesia, contos e crônicas.

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>>> A ESTÉTICA CARCERÁRIA DA NOVA SAÚDE MENTAL – O relato de uma experiência real em 8 clínicas de tratamento em contorno de poesia / ASIN: ‎B0B6T5J4WP / 17 de julho de 2022 / 1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> “1, 2, 3, 4... 4, 3, 2, 1” – Histórias escritas com palavras de baixo calão / 7 de setembro de 2022 – “200 anos da Independência do Brasil” / 1ª Edição / ASIN : ‎ B0BDDLYWVB / Selo editorial: Independently published