A RUA PRINCIPAL
- Admin
- 9 de jun. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2022
A RUA PRINCIPAL
Ricardo França de Gusmão

De súbito, na noite,
um gatilho foi pressionado.
Uma luz em flecha
cortou o espaço
rasgando a escuridão
em susto e expectativa.
O homem usava terno.
Tinha uma aliança na mão.
Não deu tempo para berro:
já caiu morto no chão.
E a crueldade ficou nua,
escandalizada, na rua principal.
Na rua tinha um hospital.
Na rua tinha uma delegacia.
Cobriram o homem com jornal
para não doer na vista.
O homem era casado.
O homem tinha filha.
O pivete, assustado,
fugiu sem o que queria.
O hospital tinha um diretor.
A delegacia um delegado.
Enquanto o homem morria
eles tomavam chope gelado.
A rua era iluminada,
de todas a mais bonita.
O homem já não espantava
pois o espanto era rotina.
A polícia interrogava,
o enfermeiro aferia a pressão.
O povo não vira nada,
nem mesmo o homem no chão.
E a violência ficou muda,
escandalizada, na rua principal.
O acontecimento era na rua.
O homem a novidade.
A multidão estava sedenta
de assunto para passar a tarde.
A lua era de pedra.
A pobreza de cimento.
Era ela a assassina
e o pivete o instrumento.
O povo se aglomerava,
a festa tomava conta.
Ali tudo se misturava,
hipocrisia, raiva e dor.
A polícia protegia o corpo
que já estava morto.
A ironia fazia a farra
com o que já estava torto.
O comércio abriu as portas
percebendo o movimento.
O povo comemorava
e o homem era o monumento.
A lua era de pedra.
A pobreza de cimento.
Em cima do homem caiu uma rosa
como forma de agradecimento.
E o tormento ficou estupefato,
escandalizado, na rua principal.
O homem sangrava no peito
em meio a multidão.
Ele usava terno
e tinha uma aliança na mão.
O homem era casado.
O homem tinha filha.
O pivete, já esquecido,
caiu também na folia.
O menino pedindo esmola
era outro ponto extremo.
O tempo era a mola
para ele ser outro instrumento.
O homem era o retrato.
O povo a radiografia.
A marginalidade é o colapso
da prensa capitalista.
A aurora se anunciava,
a vida prosseguia.
O homem ainda no chão
era peça decorativa.
A rua era iluminada,
de todas a mais bonita.
Ela era a principal
onde, principalmente, se morria...
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>>> Jornalista, professor e poeta, Ricardo França de Gusmão, 54 anos, é detentor de vários prêmios literários. Conquistou três prêmios de reportagens sobre Direitos Humanos, dois internacionais, e um de dimensão nacional, na condição de repórter especial e professor orientador universitário. Trabalhou na imprensa escrita, TVs, assessorias de imprensa, internet e Academia. Publicou 27 livros de poesia, contos e crônicas.
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