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AMBIENTE DE TRABALHO

Foto do escritor: AdminAdmin

Ricardo França de Gusmão

16.10.2019

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— Oi, jornalista! Que cara é essa? Parece consternado. O que houve, meu amigo?

— 'Eles' voltaram.

— Eles quem?

— Os 'coisas' ruim.

— Já sei... Vilões de histórias em quadrinhos?

— Não. 'Eles' são piores!

— Piores que o Coringa???

— Sim.

— Mas quem é essa raça de gente ruim, jornalista?

— Começa pelo bacilo de Koch. Depois fazem parte da mesma turma a minhoca da maçã; o sarampo, a rubéola, o raquitismo, Drácula, a mulher da cabeça caída, o Cabral, a Ku Klux Klan, as células cancerígenas, o envelhecimento precoce, o abdômen atropelado, os zumbis, o ebola, o ogro, Dick Vigarista, o Trump, o nariz peludo, o cabelo na orelha, o lobisomem, a mula sem cabeça, o Capitão Gancho e o chefe de todos eles, a mão sem braço, o Capeta. Todos são terceirizados contratados. Menos o Capeta, que foi eleito pelo povo. E a mão sem braço, nomeada por ele. Cargo de confiança, comissionado.

— Puta que pariu!

— É isso aí. Resumiu bem.

— Cara, mas como é que você faz para ir trabalhar todos os dias? Conviver com essas criaturas? Você não 'pira', não?

— Pirei. Agora, nesse momento, por exemplo, tô pirado. Não tá vendo?

— É mesmo. Tô...

— E ainda tenho que dar bom dia e boa tarde, segurar a onda. Para disfarçar.

— Quando for assim respira fundo...

— Não dá. O ar é tóxico. Eles peidam ao mesmo tempo. De cinco em cinco minutos.

— Nossa! Que nojo!

— E fazem sexo grupal nas escadas entre o segundo e terceiro andares. Não dá nem para andar por ali. Os sapatos grudam no chão, de tanta gosma. Um troço viscoso. Dá medo de escorregar naquela porra.

— Mas como essa galera se juntou?

— Na verdade, eles estavam sempre ali. Disfarçados de pessoas do bem. Mas o tempo foi passando... O Brasil mudou. Ser do mal tá na moda. É pré–requisito no processo seletivo.

— Caramba, e eu ainda ajudo a pagar os salários dessa gente!

— Sim. Você é um idiota do bem. Também está na moda. Mas olha...

— Fala, jornalista!

— Quando sair daqui, ao chegar em casa, toma um banho de alecrim e sal grosso. E tranca a porta.

— Pode deixar

— Tá sentindo esse cheiro agora?

— É... Cheiro estranho...

— É enxofre.

— E o que isso significa?

— Que o Capeta chegou da reunião com o Presidente.

— E agora? O que a gente faz? Está escorrendo sangue do seu nariz, amigo!

— Esquece. Essa hemorragia nasal é devido ao enxofre. Tá com colete a prova de balas?

— Não.

— Então começa a rezar. E se joga no chão.

— Eu vou ter que ir para a minha sala.

— Mas já? Vai me deixar aqui sozinho, irmão?

— Infelizmente. Tenho que digitar uma nota oficial.

— Para quem? Por que?

— Para a imprensa. Para enganar a população. Está tudo bem. É rotina.

 
 
 

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