APOSENTADORIA EM LATITUDE E LONGITUDE

APOSENTADORIA EM LATITUDE E LONGITUDE

Ricardo França de Gusmão

8.1.2023

Antes da casinhola da aposentadoria

Não media o valor espacial do tempo

Tecnologia capitalista

De regulamentação estatal

E via-me livre pássaro inacreditável

A voar no tempo a mim imposto

Hora de chegada e de partida

Horas cumpridas mais valia

.

Sim. Campo de concentração

Técnica vigiada, monitorada,

E não pense

Que essas duas não são

Artifícios diferentes.

.

Pois antes da casinhola libertária (?)

Da aposentadoria

Eu sentia uma dor frequente

Uma intercorrência vascular

Frequente

Uma inadequação

Ao meu meio ambiente

.

Como se fosse tóxico a ele

E não às minhas ex-chefias despreparadas,

Mal treinadas, recheadas de “eu mando”,

Em fluxo de neuropatia hormonal

.

Hoje o mercado fala em ‘times’

Mas a minha vida profissional

Não foi um campeonato de vôlei ou de futebol

E não há ‘time’ no mercado

Querem enganar a quem,

Afinal?

.

Hoje ando muito ocupado

Com a minha aposentadoria.

Ela é doce e fria.

Cedo e tardia.

Lâmina fria.

Cortadora de sonhos

Ecossistema da exclusão

Uma espécie de destituição

Da jornada.

.

A aposentadoria esgrima

Uma geografia sabonete

Tapete

No qual escorrego estagiário

Desatualizado

Do meu jardim.

.

Tolo ser aquele jornalista aposentado

que conta um sol

Mais um sol mais um sol

E outro sol

Sem encontrar no sol

E na soma dos sóis

Vindouros

O contexto dos pássaros

E dos assassinos

.

A aposentadoria é a desperpção

Da notícia

E da cidadania

E da justiça

Que nela existe.

Em latitude e longitude

De humanidade.