ENTRE OS RASTILHOS DAS BUNDAS RELATIVADAS

Ricardo França de Gusmão

2.8.2022

Tateio as paredes lanternas

Da minha cegueira caverna

Percorro o canavial do mapa mental

Com esforço músculo fraqueza

Aos tropeços nas praças de pedras

Esferas megeras ex-certezas

Entre quartos e cômodos

Generalistas do apartamento

Que me encastela geométrico

E me mastiga, e me saliva,

Entre portas e gavetas

Estou esquadrinhado

Latido de cão

Miado de gato

Poeta no porão

Fome na faca, no garfo, no prato

E avisto o vulto patriotizado

Do presidente da República

.

Pertencido e enclausurado

Em liberdade aumentada

Lógica ginecológica dessa luz

Que não projeta sombras

Tateio o beiral das portas

Até chegar na cama onde já estou

Sapo e sal terrivelmente,

Meus braços sustentam

O corpo em colapso

Joelho alavanca meu peso

E desabo

Em mim que sente

Bravamente resignado

Ao extrativismo da invisibilidade

.

Meu quadrilátero, minha redoma,

Meu confessionário de sonhos

E pesadelos, meu canteiro

De ácaros e varíolas

Estar morto é sentir-me vivaz

Em simetria jurídica ao aspecto

Político da vida audaz

Porém tudo é rastilho

Psicológico, vário,

O vulto quer o meu voto

Em desvario e desmaio

.

Desmonto as minúcias da angústia

Em peças de lego, id, ego, superego

E brinco-me

Ao tentar alfabetizar meus espelhos

Jogo da forca entre palavras cruzadas

Poesia em campos de batalha

Sonho sempre o mesmo sonho

E nele sou anti-herói, debochado canalha

Denuncista dos amigos dos amigos

Logo sou desqualificado ao vociferar

Contra a estética da hipocrisia

Do discurso

Por isso xingo as bundas das narrativas

Editadas bundas relativadas

E desobedeço os editores do meu subconsciente

Pois são ridículos e redondamente

Quadrados

Por isso não entendem a estupidez

Dessa palidez geométrica

Estética engordurada

Agências de checagem

Especializadas em treinamento

De manicures

.

Lençóis de jornais impressos

Memória das minhas reportagens

Me cobrem de esquecimento

E um tormento de cimento

Me acusa de ter sido um dia

Assessor de imprensa

Do esquema

Cínico

Do crime que compensa

Os traidores de Roma

Os íntegros da Bastilha

Frente à renúncia dos justos

E às cabeças nas guilhotinas.

Tudo isso eu vi.

A anatomia dessa metodologia

Quando assisti em delírio

O sistema ordenar o martírio

Da assessoria que manda e castiga:

Jornalista investigar jornalista

.

Quando o sono me dorme

E acordo para a realidade que flutua

Nessa cama sinto-me forte

Abaixo o short e também deixo

A minha bunda lua nua

A fim de me tornar igual a eles

Um vagalume

Em voo caótico na escuridão

Do exótico tóxico

Estapafúrdio terceirizado

Especialista em hipnotizar cobras

Para assumir a assessoria de comunicação

Da secretaria de obras

Do coração dela,

Mas ela é a única que possui o poder

De enxergar a verdade

E sinto-me falso

Ao querer, como eles, fazer magia

Com a minha bunda em elegia

Exposta

.

E volto a ser espesso e rígido

Em meu caráter

Meus braços pendem

E tremem em tormento

Quando vejo, enfim, meu retrato

No papel datilografado sem fotografia

Na minha Certidão de Nascimento.

Sou um reflexo, sim, um nexo,

Do propósito que assumi

Ao nascer. Não lamento.

A câmara de gás me nina.

E se perco a cabeça na guilhotina

Antes de escrever a próxima reportagem

Tomo injeção letal

Contra a corrupção e a pilantragem

Anticoagulante, no papel santificado

Do jornal.

>>> Jornalista, professor e poeta, Ricardo França de Gusmão, 54 anos, é detentor de vários prêmios literários. Conquistou três prêmios de reportagens sobre Direitos Humanos, dois internacionais, e um de dimensão nacional, na condição de repórter especial e professor orientador universitário. Trabalhou na imprensa escrita, TVs, assessorias de imprensa, internet e Academia. Publicou 27 livros de poesia, contos e crônicas.

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>>> JANELAS DA ALMA – Nunca existirá a mais absoluta distância, enquanto pudermos abrir as janelas pinceladas nas paisagens das obras de arte / 24 de julho.2021 / 1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> A ESTÉTICA CARCERÁRIA DA NOVA SAÚDE MENTAL – O relato de uma experiência real em 8 clínicas de tratamento em contorno de poesia / ASIN: ‎B0B6T5J4WP / 17 de julho de 2022 / 1ª Edição / Selo editorial: Independently published

>>> “1, 2, 3, 4... 4, 3, 2, 1” – Histórias escritas com palavras de baixo calão / 7 de setembro de 2022 – “200 anos da Independência do Brasil” / 1ª Edição / ASIN : ‎ B0BDDLYWVB / Selo editorial: Independently published