LAMPARINA
- Admin
- 18 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
Ricardo França de Gusmão
13 de maio de 2022
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— Ricardo, olha para o céu....
— Não.
— Por que não, Ricardo?
— Porque nele há estrelas.
— E você brigou com as estrelas?
—Não.
—Você as inveja?
—Não invejo qualquer tipo de luz.
—Então por que você não as quer vê-las? Tens inveja das estrelas, Ricardo?
—Não.
— Então... O que há?
— Elas são excludentes.
— Mas por quê? Pois se há democracia no brilho delas...
— Elas me excluíram, e eu caí aqui.
— Você se considera uma estrela decadente?
— Não. Não há decadência em mim. Também não sou uma estrela celestial. Por isso fui excluído, pois há ‘clubes de galáxias’ na constelação. Sou somente um ‘brilho’ caído.
— Ricardo, por que você não sai desta caverna? Há luz lá fora.
— Aqui sou mais importante para a escuridão da caverna do que a luz que governa a cada 12 horas o mundo externo.
— E qual é a não importância de ser uma sub-luz?
— Senhor, toda forma de luz tem o seu propósito de iluminar. Eu ilumino a escuridão. O dia é um advento da luz maior, o sol. Eu sou lamparina. Mas na escuridão, sou como o sol. Na proporção suficiente para se enxergar.
— Você acredita que facilita o trabalho das retinas?
— Sim. Pois coopero para igualar as oportunidades de ver o mundo. Eu ajudo a iluminar as bifurcações que existem no caminho das escolhas.
— E você é feliz assim? Uma estrela solitária na escuridão que você enfrenta?
— O importante não é a felicidade. É como ser a estrutura de vergalhões que sustentam uma ponte. Por onde as pessoas passam. Mesmo desconhecendo as pilastras que suportam as pontes que elas pisam. E as estrelas do céu, senhor, não sabem disso. De seus propósitos. A catarse existencial delas é simplesmente a admiração dos olhos dos casais e dos navegantes perdidos nos oceanos.
— Mas e você, Ricardo? A quem iluminas o caminho?
— Das mariposas. Elas me amam. Não se governam ao me imaginar uma estrela. Mas a luz que surge aos voos cegos, a luz que é capaz de proporcionar a perpetuação das espécies que verdadeiramente necessitam da luz como água e alimento.
— Isso é doação ou egoísmo, Ricardo?
— É neutralidade e humildade, senhor. Ser um agente de luz em meio às luzes da constelação ou da claridade do dia... É fazer parte da maioria. Eu sendo a mais desnecessária luz, como aquela que os otimistas enxergam no final dos túneis, terei sido o sol. Esperança dentro de lamparinas.
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