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OS VERNIZES DAS MEDALHAS

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 8 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura

(Olimpíadas de Paris 2024)

Ricardo França de Gusmão

7.8.2024



Qual é a cor da minha medalha?

Qual é a cor da sua medalha?

E qual seria a cor das nossas medalhas

Caso elas fossem miscigenadas?

Teria brilho de ouro, prata ou bronze?

De liberdade, dignidade e honra?

Ou de inclusão, cidadania, emancipação?

.

As conquistas têm cores ou brilhos?

Quanto é a taxação de importação

Dos nossos merecidos méritos,

Superações e conquistas?

É justo monetizar o mérito?

A medalha é personalíssima

Ou da Nação?

Quem decide é o

Tribunal de Contas da União?

É justa a hierarquia do pódio?

Quem chega por último

Também goza da honra

Da jornada?

Ou a expressão de que “o importante

É competir”, não vale nada?

.

De qual mineração florestal

As medalhas de ouro, prata e bronze

São extraídas e cunhadas?

Os valores olímpicos têm verniz

Do capital ou do neo-socialismo?

Triste do país que loura a flâmula

Daquela raça pura do nazismo.

Quando o atleta ganha

É o país o vencedor?

E quando o atleta não vence

É o seu país o perdedor?

De quem é a dor?

.

Para ser campeão é preciso

Vencer-se, parar de sofregar

No mar-exílio do espelho

Naufrágio ego do Narciso?

Superar os limites impostos pelo

Ecossistema da exclusão

E carregar a tocha Paralímpica

Hercúlea da superação?

Qual é o ágio da fama?

O póstumo esquecimento,

O envelhecimento da carne,

A osteoporose e o drama?

Há eternidade após a fama?

Multidão em êxtase de abraços

Fantasmas, lembranças

E microfones a farejar

Ausências heroicas?

.

Serão os atletas olímpicos

Super-homens

E super-mulheres?

Como funcionam seus aparelhos

Digestivos, seus sistemas cardíacos?

Serão os atletas personagens

Saídos dos livros? Poemas

Épicos vivos?

Transpiram os atletas

Da era moderna

O magma do suor de Hércules após

Seus 12 trabalhos à luz que ardeu

Na pira de Zeus?

Um dia será que esses serão

Os trabalhos meus:

Provas de corrida, pentatlo entre saltos,

Lançamento de discos e lança-dardos,

Remo, ginástica, tiro com arco

Como no sonho planetário

Dos anéis olímpicos entrelaçados

Do Barão Pierre de Coubertin?

Será que o trabalhador, o pedreiro,

O maquinista de trem,

A lavadeira, o menino da Mangueira,

A costureira, os ‘Joões Ninguém’,

Também serão medalhados “alguéns”?

Mas, contudo, todavia, porém,

O que está em jogo

Não é o brilho da medalha de ouro

Mas o seu significado sim,

O maior tesouro:

O reconhecimento do esforço,

Que dói na carne, no peito, no osso,

Na disputa de pênaltis

No gol,

Na bola na trave,

Na defesa do goleiro,

Na vitória e na derrota

Com dignidade?

Há, em todas essas possibilidades

Uma única certeza:

A de que a escuridão da Humanidade,

Que amordaçou os gritos guturais

Nos calabouços

Tenebrosos da Idade Média,

Nunca mais serão ouvidos nessa ilíada

De Homero,

Ofuscado cadafalso da tirania,

Iluminado eternamente

Pela luz da glória nas piras acesas

Das próximas Olimpíadas

"Liberté, égalité, fraternité",

Democracia, diversidade

Arco do Triunfo e gratidão

Que faz do Planeta em pirueta,

Uma só cidade, em conclave,

Com veracidade, para mim

Para você, para gente

Em comunhão!



 
 
 

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