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SEPARAÇÃO

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 17 de dez. de 2022
  • 1 min de leitura


SEPARAÇÃO

Ricardo França de Gusmão


Saiu e bateu a porta

com a violência de querer ficar,

para restaurar os danos

e cuidar dos ferimentos.

Saiu e demoliu a ponte

propositalmente

sobre os mares da distância.

Partiu querendo ficar perto,

mais perto que o abraço

pedaço de nós que sumiu

como se arrancassem o céu do lugar

e o escondessem no centro da terra.

Partiu e bateu a porta,

seu corpo prosseguiu vazio

das emoções que ficaram

no ambiente de dentro.

Bateu a porta

para que os olhos ouvissem

o que não estavam vendo

tão nublados de passado.

Bateu como se quisesse

erguer outra muralha de Berlim

entre as nossas culpas

revestidas de desculpas

e entre nós dentro de mim.

Decretou sua decisão batendo a porta

incisiva na destruição

das nossas causas,

e prosseguiu de costas com máscaras

de frieza,

pouco ligando se as luzes apagariam,

se eu iria dormir

ou se iria escutar o tiro do suicídio.

Bateu a porta e saiu

bateu a porta

absoluta e segura,

veias de ferro,

sangue amarelo,

vestida e obediente da sua prepotente razão,

cegueira que lhe guiava o caminho.

Saiu batendo a porta

pensando indecifráveis códigos

planejamentos e vinganças.

Bateu a porta como se derretesse

e vendesse a aliança

e abortasse a criança

que tentávamos nos sonhos e na cama.

Bateu a porta repetindo para si

que assim era o certo

mirando o ego sempre belo

na frente do espelho companheiro de ferro.

Bateu a porta me negando os seus seios

e a tranquilidade de seus carinhos.

Com tanta força bateu a porta

que bateu milhares de vezes

quando bateu a porta.

Quando bateu bateu bateu e bateu a porta

levantei e continuava vivo,

e abri a mesma porta

que era o seu esconderijo,

abri tão mansamente a porta

que aquela atmosfera morta

dissipou-se

no vento que o carinho trouxe.

E eu não disse adeus

não disse nada,

e ela, já distante, na estrada,

disse todas as palavras

quando olhou para trás.


Eu entrei e fechei a porta.

Já não adiantava mais.


 
 
 

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